Os fundos abutres: meros participantes do cenário internacional ou sujeitos perante o direito internacional?

Guilherme Berger Schmitt

Resumen


O objetivo deste artigo é analisar a atuação dos chamados fundos “abutres” no cenário internacional, nomeadamente no âmbito das dívidas soberanas, perquirindo, com isso, a caracterização jurídica desses fundos perante o direito internacional público. Para tanto, primeiro apresentamos uma definição desses atores específicos, caracterizando-os a partir da sua atuação na seara internacional. Em seguida, analisamos a evolução dos institutos econômicos e jurídicos que hoje permitem o modo de operação dos fundos abutres, alinhavando breves explicações acerca da imunidade jurisdicional dos Estados e da titularização dos créditos das dívidas soberanas. Após a sua caracterização e a explicação do seu contexto de atuação, passamos à análise do papel exercido por estes fundos no âmbito internacional, demonstrando o seu papel de reguladores do mercado das dos créditos das dívidas soberanas. Finalmente discutimos a possibilidade da atribuição da personalidade jurídica desses atores perante o direito internacional público. Concluímos que que o ingresso destes fundos no âmbito das dívidas soberanas resultou diretamente dos “incentivos” jurídico-econômicos presentes na época do seu ingresso no cenário internacional, permitindo o seu modo de operação atualmente empregado. Também é possível concluir que que os fundos “abutres” podem ter, com algumas ressalvas, um papel positivo no âmbito das dívidas soberanas e, consequentemente, a possibilidade de ter a si atribuída a característica de direitos de sujeito internacional, embasando as novas teorias da quebra de paradigmas do direito internacional público atual.

Palabras clave


Fundos Abutres. Dívida Soberana. Reestruturação da Dívida Soberana. Imunidade Jurisdicional do Estado. Sujeitos de Direito Internacional

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DOI: https://doi.org/10.5102/rdi.v12i2.3728

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