A colonialidade do poder na perspectiva da interseccionalidade de raça e gênero: análise do caso das empregadas domésticas no Brasil

Daphne de Emílio Circunde Vieira Andrade, Maria Cecília Máximo Teodoro

Resumo


A proposta do presente artigo é pesquisar as origens do pensamento decolonial com base no surgimento do Grupo Modernidade/Colonialidade, a fim de entender como o processo de expansão dos territórios dos países da Europa Ocidental sobre os países do chamado Sul Global culminou na colonização não somente dos corpos, mas dos saberes e das mentes dos dominados. A partir das reflexões de autores decoloniais, como Aníbal Quijano e Maria Lugones, debatemos o surgimento do feminismo decolonial e sua importância para o desenvolvimento pessoal das oprimidas que se encontram nas fronteiras limites entre o obscurantismo da sociedade e o seu próprio sofrimento. Diante dessa análise e tendo como referencial as relações de trabalho, concluímos que as ações opressoras se perpetuam no mundo pós-colonial sobre os sujeitos e sujeitas subalternas e são mais intensas quando se analisa a interseccionalidade de raça e gênero. Na sequência, propomos uma breve análise normativa do trabalho das empregadas domésticas no Brasil, bem como apresentamos um retrato desse mercado de trabalho, concluindo que sobre elas ainda pesa a opressão “das gentes” e do capital. Por fim, pontuamos uma última reflexão sobre a situação dessas sujeitas, especialmente no momento em que se vive a pandemia causada pelo Coronavírus. A pesquisa utiliza-se da produção acadêmica de autores e autoras alinhadas com o pensamento epistemológico decolonial, também como forma de contribuir para a ruptura com o padrão eurocêntrico do saber e reconhecer a importância do surgimento de uma nova proposta, que seja de complementariedade e não de exclusão.

Palavras-chave


Decolonialidade; Raça e Gênero; Feminismo; Direito do Trabalho; Domésticas; Coronavirus.

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DOI: https://doi.org/10.5102/rbpp.v10i2.6855

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